Ela liga pra namorada do seu melhor amigo.
Desculpa incomodar, mas eu não aguentava mais compartilhar essas palavras comigo mesma, sem ter ninguém para ouvir. Olha, grande parte de mim diz que eu não deveria gostar de você. Nem sei se eu gosto, não me leve a mal. Deve ser só ciúme mesmo, porque um dia cheguei a pensar que seria única na vida dele. Não que fôssemos apaixonados um pelo outro. Era a magia da coisa. Ele me entendia mais do que qualquer pessoa do mundo. Nunca passou pela minha cabeça a ideia de que os outros nos vissem como um casal. Criamos planos. Planejamos que iríamos nos casar e ter uma casa perto da praia. Teríamos dois filhos. Ele chegaria em casa e ia brincar com as crianças enquanto eu preparasse o jantar, que sempre terminaria em pizza. Eu acordaria do seu lado e iria inventar um motivo bobo para vê-lo sorrir. As paredes da casa seriam brancas, e também teríamos um cachorro, quase considerado como um filho. Nós passearíamos durante a madrugada para vermos as estrelas e eu dormiria acolhida pelo seu abraço. Nos sábados a noite, contrataríamos uma babá para cuidar das crianças enquanto fôssemos ao cinema para nem prestar atenção no filme. Seria lindo ver a escova de dente dele do lado da minha, no banheiro. E quando as minhas amigas perguntassem como estava o casamento, eu contaria a nossa história, mais uma vez, mesmo sabendo que elas já haviam decorado por causa de todas as outras vezes que eu contei. Ele comentaria de como eu ficava pequenininha usando sua camisa e de como aquilo era engraçado. Em dias de calor, esperaríamos pela chuva só para dançarmos sobre ela. Ah, ele me disse que não sabia dançar e eu fiz questão de ensiná-lo a partir do “dois pra lá, dois pra cá…” Ele me suportaria quando eu tivesse de tpm. Apesar de que ele adorava rir da minha irritação. Ele me ensinaria a surfar e andar de skate, enquanto eu lhe ensinava a trocar as fraldas dos bebês. E quando ele viajasse por causa do trabalho, eu ligaria de segundo em segundo só para falar que estava com saudades. Não por fazer o tipo de companhia melosa, mas para verificar se estava tudo bem enquanto eu não podia cuidar dele. Eu faria amizade com os amigos dele, só para provocar. Tenho que admitir que ele fica a coisa mais fofa-linda que eu já conheci com ciúmes, e por isso gosto de provocar. […] Só para não me esquecer: ele é o tipo de cara idiota. Ele te liga de madrugada, nem que seja para ouvir sua respiração ou seu riso baixinho do outro lado da linha. Se você diz que uma camisa fica bem nele, ele vai querer usá-la todas as vezes que vocês se virem. Quando as pessoas perguntarem se vocês são namorados, ele vai querer te beijar só pra irritar e vai dizer que são apenas melhores amigos. Ele tem uma puta mania de morder toda hora, e as vezes é estranho. Sempre que ele avistar uma piscina, vai te jogar nela, você querendo ou não. Ele vai perceber quando não estiver tudo bem. E vai querer te arrastar pras festas mais loucas que existirem. Se algum cara partir seu coração, vai fazer questão de matá-lo. Até mesmo se ele for esse cara. Ele gosta de beijar orelhas e pescoços, de um modo engraçado. A sua risada é o som mais lindo que eu já ouvi. E caralho, se ele chorar por você, sinta-se a pessoa mais feliz que já existiu, por tê-lo só pra ti. E nunca ouse em magoá-lo garota. A menos que queira ter problemas sérios comigo. E eu não digo isso tudo porque já fui apaixonada pelo seu namorado. Mas porque pensei que seria eu e ele para sempre. Pensei que ele seria meu, até seu último segundo de vida. Tudo bem, sem ressentimentos. Torço por vocês. Apenas precisava dizer isso.
Ela desliga o telefone, e repete baixinho: “eu o amo”.